domingo, 8 de agosto de 2010

MECUM = ME + CUM = CUMECUM = COMIGO

MECUM  =  ME +CUM.  Todos conhecem estas expressões em latim: DOMINUS  (sit) MECUM,   DOMINUS  (sit)  VOBISCUM,  isto é,  o SENHOR  (ESTEJA ,sit, subentendido)  COMIGO,  o SENHOR  (ESTEJA, sit,  subentendido) CONVOSCO. Toda língua tem suas excentricidades ou esquisitices. A nossa língua pátria - na época da ditadura Vargas dizíamos Língua Pátria em vez de Língua Portuguesa - não foge da regra geral!  Assim sendo,  fenômeno estranho sempre me pareceu a tradução de MECUM,  TECUM,  SECUM,  NOBISCUM,  VOBISCUM, do latim,  pelas nossas expressões pronominais correspondentes COMIGO, CONTIGO, CONSIGO, CONOSCO, CONVOSCO. Explico-me:  tomemos a forma pronominal MECUM. O comentário sobre ela vale também para as duas formas pronominais  TECUM  e  SECUM; depois comentarei o caso das formas pronominais NOBISCUM  e  VOBISCUM.  MECUM compõe-se de ME  (em latim,  pronome pessoal oblíquo da primeira pessoa do singular)  com a preposição  CUM (que em latim, no caso da expressão MECUM,  é uma preposição regendo ME no caso ablativo).  Tem-se então MECUM  =  ME + CUM. Pela sua índole o Latim tem muita liberdade de distribuir as palavras numa frase, embora atendendo a certas regras. Daí na expressão MECUM, diferentemente de nossa língua, o pronome pessoal ME precede  a preposição CUM à qual se aglutina.  Nos primórdios de nossa língua era usada a expressão MIGO, tradução exata de MECUM, o C abrandando-se  em G.  O dicionário Houaiss observa que à expressão MIGO sucedeu a expressão "COMIGO",  possivelmente por ter ocorrido um uso pleonástico, repetido,  da preposição CUM (sob a forma de CO)  na posição prepositiva,  devido ao apagamento ou abrandamento da noção do CUM aglutinado pospositivamente sob a forma abrandada de G; é possível que tal uso pleonástico tenha ocorrido no latim vulgar CUMECUM,  dado o fato de ocorrer também no espanhol COMIGO e  no italiano antigo COMMECO . Assim se explica  por que MECUM, TECUM e SECUM nossa língua traduza por COMIGO, CONTIGO e CONSIGO. Resta explicar a origem de CONOSCO e CONVOSCO. Existiram as formas  nos começos de nossa língua NOSCO e VOSCO resultadas de NOS (em vez de NOBIS) + CUM  e  de VOS (em vez de VOBIS)   + CUM. Talvez por influência do que ocorreu com MECUM, TECUM e SECUM, embora não tenha  acontecido o abrandamento do C em G,  repetiu-se a preposição CUM antes daquelas  formas pronominais  NOSCO  e  VOSCO.  Daí:  CONOSCO, CONVOSCO. Em COMIGO, CONTIGO,  CONSIGO,  CONOSCO  e  CONVOSCO  o acento tônico  recai sobre a penúltima sílaba por serem sílabas longas em latim.

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