domingo, 22 de agosto de 2010
DEUS NOS FALA AINDA PELOS ANIMAIS
1. Globo online, 21/08 - Na Índia em plena rua uma mota atropela um filhote de macacos. Transeuntes atônitos veem um cão eufórico disparar em direção do acidentado, estirado no asfalto. A macaca mãe não perde tempo. O instinto materno lhe triplica a coragem, lhe acelera as passadas. E num salto heroico, julgando-se com "toda a macaca" , monta no cangote do dito "amigo do homem", e aplica-lhe surpreendente dentada na jugular, salvando assim a vida da filhinha recém-nascida. "Res mirabilis!" 2. Há cerca de 10 anos, oito da matina, ouço, da cozinha de minha casa em Minas, guinchos angustiados, repetidos sem pausa, por certo de animal em apuros no interior de meu quintal. Da porta da cozinha, correndo de um lado para outro, sobre o muro divisor do terreno vizinho, um senhor gambá que só podia ser um macho. Subo o terreno inclinado e descubro nítida, com o pescoço enganchado na forquilha de um galho de sabugueiro, a debater-se em desespero, a fêmea do macho em deplorável situação. Aproximando-me... cena de nunca se esquecer: o companheiro, de momento a momento, saltava sobre o galho que enforcava a agonizante e com uma das patinhas dianteiras acariciava a cabeça da amiga. Com o auxílio de uma vara suspendi-a de imediato e o casal tomou rumo ignorado. 3. Foi na cidade de Tiradentes, Minas Gerais, onde eu e minha esposa esquecemos por uns dias a vida agitada do Rio. Pela manhã, depois de algumas voltas, retornávamos à pousada na praça principal. E aí, aguardando-nos na porta de entrada, sempre nos assediava um vira-lata já habituado por nós a um petisco diário. Um dia houve em que regressamos bem mais tarde à pousada. E além do mais nos detivemos na praça defronte, batendo, em pé, animado papo. De repente, sinto no sapato uns nervosos arranhões. Assustado, que vejo? Os olhos do conhecido vira-lata, num brilho de enternecida súplica, feliz por me ter achado e mais ainda por antegozar o habitual pãozinho de queijo! "Canis panem somniat". Estou me lembrando de um poema de conhecido escritor brasileiro que fez tudo que pôde para se livrar de um cão chamado Veludo. Por fim arrastou-o num barco, fora da barra, e abandonou-o em meio às ondas. Chegando a casa, deu falta de preciosa joia, presente de sua mãe. Na manhã seguinte, batem-lhe à porta. Assustado, abre-a. Era o Veludo que lhe solta da boca, aos pés, a joia perdida no mar, caindo morto em seguida. Tenho uma irmã que sabia de cor toda a poesia que, por sinal, constava de quase vinte estrofes!
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