quarta-feira, 31 de março de 2010

"O FELIX CULPA"

A chamada pelos cristãos de SEMANA SANTA pontua cada ano, queiramos ou não, cada dia desse lapso de tempo com características tão especialíssimas que dificilmente se encontre alguém insensível ao que então se celebra ou se comemora pelo menos em nosso país. Na década de 40 do século passado. eu residia em Petrópolis. Impressionava-me como a própria natureza anualmente gostava de participar das celebrações desse período, denominado tempo quaresmal e tempo pascal, cobrindo-se, inicialmente, com o roxo fortemente penitencial das quaresmeiras de tons variegados, e a seguir acolhendo em poético amplexo aquelas frondosa árvores recheadas de buquês de flores agressivamente douradas, recordando-me de que se aproximava a quaresma e em seguida a páscoa. E tantos anos volvidos, 60 pelo menos, contemplo-me jovem, na catedral, ainda sem a torre atual, assistindo à cerimônias do sábato santo. O diácono, avançando no templo, acendia sucessivamente cada uma das três velas da serpentina que carregava, entoando três vezes, e cada vez num tom de voz mais elevado, aquele simbólico e tocante "Lumen Christi" a que todos respondíamos comovidos "Deo Gratias". E ele mesmo, depois de receber a bênção do celebrante, cantava um dos mais belos e eloquentes cânticos litúrgicos que já ouvi: o chamado "Exultet"( "Exultet jam angelica turba coelorum..."). Hino de profunda gratidão pela noite "em que hoje " todos que no mundo inteiro creem em Cristo foram segregados dos vícios e das trevas dos pecadores, uma vez que obtiveram a restituição da graça perdida. "O FELIX CULPA QUAE TALEM AC TANTUM MERUIT HABERE REDEMPTOREM", cantou o diácono, sob a inspiração d e Santo Agostinho! Divino paradoxo! Ó bendita falta de Adão que nos mereceu revestir-se Deus do indumento humano, tornando-se o Filho, segunda pessoa da Santíssima Trindade, ao mesmo tempo Deus e Homem, para que fim? Para lavar nossas culpas. Para restituir aos caídos a inocência. Para Para dar a alegria aos tristes. Para afastar o ódio. Para estabelecer a paz. Para curvar os impérios! Que bela manhã pascal para uma autêntica ação de graças a Deus! Li hoje na Folha de São Paulo, dia 31/03/2010, a queixa de uma repórter, narrando a euforia dos cientistas pelas colisões que inauguraram o projeto de física do LHC, o seguinte: "Só não vi ninguém dedicando a vitória a Deus!"

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