sexta-feira, 6 de março de 2015

O   EXCEPCIONAL

1. É teu filho. Carrega teu sangue nas veias. / Leva tua imagem no rosto. /  Belo / anjo rebelde,/ Puro / anjo anunciador. 
// Terá talvez vinte anos / a flux. Vinte anos / de insolência e inocência /  de torpor e de espanto. /  Mas de fato não conta / senão cinco: é uma criança / perene, secretamente. 
//Ardem seus olhos de uma luz / de fria indormida estrela / entre cerrados musgos. / Olha e não se sabe o que vê: / a pátria dos que não têm pátria / a despedida do porvir / a miragem  de quem ficou / destituído de algo /  que antes de ser já foi... //  A seus moucos  ouvidos /  todas as palavras são vãs / no auge da compulsão, / no escaninho da lábia. /  E PARA QUE PALAVRAS /   se a música interna envolve /  a canção anterior ao  nascimento / e ao ritmo das águas vindo /  imemorial para o tempo? //  Caminha sem pejo desnudo / incógnito / isento / incônscio / do bem e do mal. Sua cabeça // gira-girando  aos horizontes / no alto mastro às escuras / é um santelmo - indicia / mas ignora o perigo // É cego quem o reconhece / não só no sorriso alvar. /  Esse menino perdido / em meio à turba que o rejeita /  e subtrai de remorso /  a remorso em cadeia / /é  o  deus menino por acaso / encontrado no templo // - intacto de todo o efêmero".  Henriquetq Lisboa ("Miradouro e outros poemas").          

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