quarta-feira, 4 de março de 2015

ÚLTIMA  MENSAGEM  DE  NATAL  EM  GUERRA:  1944

"É já pela sexta vez, desde o início dessa guerra horrível,  que a Santa Liturgia do Natal saúda-nos  com palavras cheias de paz serena a vinda a nós de Deus Nosso Salvador. Ao fundo dos corações entenebrecidos, aflitos e abatidos,  desce, invadindo-os todos,  uma grande torrente  de luz e alegria. As frontes inclinadas se levantam serenas, porque o Natal é a festa da dignidade humana, a festa do "comércio admirável, pelo qual o Criador do gênero humano, tomando um corpo vivo,  se dignou nascer da Virgem, e com sua vinda nos deu sua divindade". E infelizmente também desta sexta vez a aurora do Natal surge sobre os campos de batalha cada vez mais extensos, sobre  cemitérios em que se acumulam  cada vez mais numerosos os despojos das vítimas sobre terras desertas, onde raras torres vacilantes indicam em sua silenciosa tristeza as ruínas de cidades  outrora florescentes e prósperas, e onde os sinos caídos ou roubados já  não despertam seus habitantes com seu alegre coro de Natal. Donde deriva uma primeira conclusão prática. O Estado não contém em si, e não reúne mecanicamente,  em dado território,  uma aglomeração amorfa de indivíduos.  Ele é e deve ser realmente a unidade orgânica e organizadora de um verdadeiro povo. Povo e multidão amorfa ou, como se costuma dizer,  "massa", são dois conceitos diversos.  O povo vive e move-se por vida própria;  massa é de si inerte, e não pode mover-se senão por um agente externo. O povo vive da plenitude da vida dos homens que o compõem, cada um dos quais, no próprio lugar e do próprio modo,  é uma pessoa consciente das próprias responsabilidades e das próprias convicções. A massa pelo contrário  espera uma influência externa, brinquedo fácil nas mãos de quem  quer que jogue com seus instintos ou impressões, pronta a seguir, vez por vez,  hoje esta, amanhã aquela brincadeira.  Da exuberância  de vida de um verdadeiro povo, a vida se difunde abundante e rica no Estado e em todos os seus órgãos, infundindo neles, con vigor incessantemente renovado,  a consciência da própria resposabilidade e o verdadeiro sentido do bem comum. O Estado pode servir-se da força elementar da massa,  habilmente manobrada e usada: nas mãos  ambiciosas de um só ou de diversos artificialmente  agrupados por tendências egoístas, o próprio  Estado pode, com o apoio das massas,  reduzida a não  ser mais que uma simples máquina, impor o seu arbítrio à parte melhor do verdadeiro povo; o interesse comum fica gravemente e por longo tempo golpeado, e a ferida é bem frequentemente de cura difícil. Daí a clara conclusão:  a massa qual acabamos de definir é a principal inimiga da verdadeira democracia, e do seu ideal de liberdade e de igualdade"(Pio XII, dezembro de 1944).

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