segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

CONTINUARÁ  O  CARIOCA  SER  UM  FILHO  ÓRFÃO?

TRISTÃO DE ATHAYDE  foi um apaixonado pelo RIO CARIOCA.  "Seu pai conheceu esse rio ainda descoberto até a foz no Flamengo. E se lembrava do pedágio que se pagava na Confluência do Caminho Velho de Botafogo (Senador Vergueiro) e do Caminho Novo (Marquês de Abrantes) na futura Praça José de Alencar.  Tristão conta que Machado de Assis morava na Rua Cosme Velho também, um pouco adiante da nossa casa. Diariamente  a pé passava pelo jardim de sua casa. Ficávamos na grade brincando de "motorneiro". Os cobradores do bonde usavam as notas pra fazer troco, e nós usávamos as folhas. O velho Machado brincava conosco, passando a mão pela nossa cabeça. Lembro-me quando morreu a mulher dele em 1904, passando sozinho de tarde, sombrio, triste, descendo por ali depois do jantar. Machado de Assis morou ali desde 1890 até morrer em 1908. Sua casa foi botada a baixo pra construir o Colégio Sion. Os bondes eram raros. A cada casa correpondia uma ponte de madeira onde à tarde se debruçavam as meninas em flor. À noite, havendo ópera ou concerto no Lírico o bonde era ornamentado com tapete e capas brancas, virava "bonde de ceroulas...". A Chácara da Casa Azul onde nasci e o leve rumor das águas que  corriam rua abaixo marcaram para sempre a lembrança de minha infância.  Fui caseiro desde o nascimento, por isso, talvez, é que voltei à Casa de Deus depois de a ter  abandonado. Contava minha mãe que ia por vezes à varanda para ver se eu tinha desaparecido, tal o silêncio em que brincava sozinho. Daí talvez até à velhice o meu culto pelo silêncio.

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