terça-feira, 12 de janeiro de 2010

PADRE SALUSTIANO = PADRE BOAVIDA

"O artista nem sempre contempla emocionado a obra que acaba de realizar. O tempo que leva na execução a vai vulgarizando aos seus olhos e quando a termina já não é mais a criação idealizada pelo cérebro excitado. Isto não aconteceu, porém, com a obra de arte que o padre Salustiano inaugurava aquela noite no CARAÇA. A conclusão do ÓRGÀO da igreja, executado peça por peça por suas próprias mãos o comovera até o fundo da alma. A vida de um quadro, de uma estátua está na sua contemplação; a do instrumento de música, na harmonia dos sons que desfere. Se a tela é contemplada pelo artista durante a execução, os acordes do instrumento ele só os ouve depois deste concluído. E quase nunca o artista da forma o é também do som. Em Padre Salustiano, porém, estas qualidades estavam reunidas na mais alta expressão. Ao ouvir pela primeira vez, enchendo a nave da igreja, as notas do órgão que construíra com seu engenho, durante anos a fio, o músico se enterneceu até às lágrimas. Foi ainda presa desta emoção, com as mãos do lado direito, sentindo aí pulsar forte o grande e generoso CORAÇÃO, que as crônicas da época rezam terem sido DOIS dentro de um só peito, que ESPERIDIÃO e Juvêncio o encontraram na sala, sentado na cadeira de Padre SUPERIOR do colégio. Padre Salustiano olhava mas não via os dois recém-chegados que estavam na sua frente. Despertado dos devaneios, endireitou na cadeira o busto de homem de quase dois metros de altura. Descansou os olhos na fisionomia de ESPERIDIÃO e disse: "Continuam a nos mandar joio". "Pode ser transformado em planta boa, desde que o senhor endureça o coração e deixe falar a :santa-luzia", disse o Padre Alberto que lhe apresentou os dois novatos. E finalmente o Padre Salustiano: "Por causa mesmo dessa fama que se espalhou por toda parte é que isto está acontecendo com o colégio!"( Do livro "ESPERIDIÃO", escrito por BENEDITO VALLADARES, ex-governador de Minas Gerais; Padre Salustiano é o Padre LUIZ GONZAGA BOAVIDA, CONSTRUTOR DO ÓRGÃO DA IGREJA DO CARAÇA NO FIM DO SÉCULO XIX).

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