sábado, 23 de janeiro de 2010

O SONO DA PAZ EM CASA

Acabo de reler em "DEGUSTAÇÃO", de Antônio Carlos Vilaça, umas poucas linhas que muito coincidem com a origem de um roxo pesar que carrego em saudoso silêncio. Não me conformo com minha ausência ao lado de minha mãe e, há um ano, de Léa Maria, mãe de meus dois filhos, quando o céu as acolheu. E eis que Villaça, escrevendo sobre a vida e morte de Walmir Ayala, vem de me traduzir o vazio, o vácuo que até hoje me acompanha, pela minha inexistente despedida daquelas duas presenças-ausentes, com as palavras que aqui ficam: "Ayala sentiu-se mal na rua. Seffrin convocou o médico. E este o transportou para um hospital. Preferível que o tivessem levado para casa, para que morresse em paz,na sua cama, no seu quarto perto do cachorro fiel, na intimidade dos rostos conhecidos, junto a mãos fraternas, mil vezes tocadas. A ouvir a sua música preferida, talvez um Vivaldi que Alceu amava, ou um Beethoven. Longe daquela incômoda parafernália de uma técnica superavançada e fria. O calor gostoso da casa não há nada neste mundo que possa de fato substituí-lo, aqui e agora, estar à vontade, no seu canto, seguro de si, no conforto leve das coisas repetidas. Nunca morrer entre mãos anônimas, desconhecidas, sob sedativos discutíveis, obscuros e vagos, de um hospital qualquer, mais empresa que casa humana, à exata medida do homem. Outrora se morria em casa. Hoje se morre no CTI, entre desconhecidos, nome ou número numa ficha mais ou menos imprecisa, impessoal". Além, se se tratar de pessoa religiosa, de poder contar com os auxílios da fé que professava. Conforta-me, contudo, a certeza, que me dá a fé, da presença de minha mãe e de minha esposa, e de inumeráveis outros seres humanos queridos, junto ao trono celeste, torcendo pela "nossa" chegada ("nossa"= generalização na ilusão de poder eu assim encobrir uma presunção!).

Um comentário:

  1. O progresso humano é muito importante e faz parte da construção da cidade terrestre, bem como da evolução da humanidade e do cosmos para a união final de tudo em Deus. Há coisas, porém, que saem do rumo desejado pelo Criador. O ser humano passa a ser considerado como um mero número, desmerecedor do respeito a ele devido como a parcela maior e suprema da criação. Falando em morte, lembro-me de um comentário que mostrava a maneira de tratar os doentes finais da maneira mais desumana, isolando-os do convívio dos entes mais queridos e os confinando nos terríveis CTIs. Talvez até com a intenção de privar os amigos e parentes da tristeza e da dor da morte.
    Bonito era o final reservado a todos os moribundos do passado, quando faleciam cercados dos entes queridos, em meio a orações piedosas e levando na mão a vela acesa, símbolo da fé na eternidade e da proximidade do encontro dom o Salvador.
    Não quero morrer de tal maneira. Tenho até vontade de escrever minhas palavras finais de despedida e de esperança para os presentes a meu velório.Seriam transmitidas por mim mesmo, através de gravação anterior, permeadas de músicas suaves e alegres, que lembrassem minha alegria de ter vivido e minha plena confiança no encodntro com Deus na eternidade.
    Que cresça o progresso mas que não esapareça a fé.

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