terça-feira, 19 de janeiro de 2010

CRÔNICAS DE CONY E DE CANTANHÊDE

Duas colocações na Folha de São Paulo, de 19/01/10, pg. A2: A DERROTA DA VITÓRIA: "Jorge escrevera que a ONU gasta meio bilhão de dólares/ano para fazer do Haiti um teste de guerra. E cita um comandante brasileiro que admite que as tropas brasileiras estão ali com um só propósito: controlar a criminalidade germinada na miséria para depois transplantar a expertise para as favelas cariocas. O Haiti é um "laboratório" (Eliane CaNtanhêde). Só com esta finalidade? E: "DEUS E OS HOMENS": "Mas as picuinhas, as vaidades e, sobretudo, a truculência na distribuição de reforços e no policiamento de uma sociedade sem a estrutura de um Estado estão sendo obra dos homens "(Carlos Heitor Cony). Quanto à primeira colocação, de natureza egoística, anticristã, a meu ver chocante, reflete apenas uma mentalidade imperialista, individualista, oportunisticamente destituída de genuína solidariedade humana, lembrando um pouco, "mutatis mutandis", o procedimento não muito antigo de nações hoje "soi-disants" de primeiro mundo à custa da exploração de colônias que, como Haiti, se veem atualmente em deplorável situação. Com relação às declarações de Cony, segunda colocação, os mal-entendidos ou mesquinharias por ele referidas são mais uma prova do agir desumano e politiqueiro de quem julga estar ajudando um povo sofredor. Como a vaidade, o ciúme, a politicagem corroem as boas intenções! Acabo de ouvir Lula declarar na inauguração de uma obra na cidade mineira de Jenipapo, o que bem define a atitude dos que correram a minorar as dores do povo sofrido de Haiti, que, enquanto dois caciques da política ficam brigando, o pobre povo come o pão que o diabo amassou. Ainda nessa crônica: Cony lembra que Voltaire perdeu a fé na existência de Deus por ter Ele consentido na tragédia do terremoto de Lisboa em 1755. Cony, deixe-me aqui e agora confessar-te uma inconfidência partida de alguém que, como tu, e tendo um pouquíssimo menos de tua idade, passou a adolescência e mocidade entre as quatro muralhas físicas e morais de um seminário menor e maior, de alguém, repito, leitor assíduo de tuas crônicas e já de alguns de teus livros, que teima em não acreditar em afirmações tuas ou insinuações de que não crês em Deus. Ou ando equivocado? Mas me parece que pela crônica de hoje (19/01/10), face ao que se contém no primeiro parágrafo, apelo por Camões para te dizer que "cesse tudo o que a Musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta". Terminando: não nos esqueçamos do verso de Terêncio, poeta cômico latino (194-159 antes de Cristo): "Homo sum: humani nihil a me alienum puto", isto é: nada daquilo que é humano me é estranho. Um brinde à solidariedade humana!

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