terça-feira, 5 de janeiro de 2010

"BELÔ" na visão de GUSTAVO CORÇÃO

Depois de uma visita a BELO HORIZONTE, no ano de 1949, o escritor católico GUSTAVO CORÇÃO escreveu carinhosa mensagem aos amigos da capital mineira que "tão cordialmente ali o haviam acolhido". Leiam, mineiros, alguns destaques do hino de simpatia com que há 60 anos o autor de "TRÊS ALQUEIRES E UMA VACA" pintou a paisagem moral e espiritual da "CURRAL DEL REI" de vocês:
"O que eu vi em Belo Horizonte foi uma cidade vagamente aprazível, servindo de fundo mal entrevisto ao incomparável espetáculo da amizade. O que eu vi foi uma sucessão de rostos amigos, um aniversário muito caseiro em que de repente me achei sem saber como lá chegara. Uma menina de 15 anos que tirou um retrato comigo. Um governador de Estado de carne e osso com quem a gente pode conversar e um diretor de jornal que me leva para rezar numa capela dentro do dito jornal. Eu tinha a esquisita impressão de estar vendo como em sonho o lado bom do mundo do homem. Existiria alguma coisa real que as circunstâncias favoráveis me permitiam apreender. Talvez uma tradição mais guardada, talvez um cristianismo mais vivido. Tornar-me-ei mais claro se lhes comunicar uma ideia que só agora me acudiu. O que eu sentia entre vocês era qualquer coisa que me lembrava o MOSTEIRO DE SÃO BENTO do Rio. Como se o adro do Mosteiro se tivesse alastrado e invadido as ruas de uma cidade nova e bonita; ou como se o movimento das ruas fosse um burburinho de fim de missa. Aqui no Mosteiro costumam vir os turistas que mais admiram os lavores na pedra do que esses outros lavores mais finos que a Santa Regra traça na fisionomia acolhedora dos monges. Mas a mim não era a pedra do Mosteiro que eu encontrava em Belo Horizonte. Eram as FISIONOMIAS. Ou eu me engano muito ou VOCÊS TÊM ALGUMA COISA DE BENEDITINO: a estabilidade no trabalho, a "discretio" na reserva, mistura de malícia e simplicidade, a obediência que se manifesta num fino senso político, e finalmente essa SIMPÁTICA HOSPITALIDADE que poupa aos visitantes a estafante obrigação de admirar as obras da municipalidade - tudo isto que agora pondero, rememorando minha breve passagem em Belo Horizonte, traz-me a lembrança de anos atrás quando pela primeira vez subi a ladeira de SÃO BENTO no Rio. E essa impressão se torna mais forte quando penso nas moças que Belo Horizonte entregou à CLAUSURA BENEDITINA; e se torna fortíssima quando penso que essas mesmas moças estão de volta ou melhor, que a própria clausura beneditina está de volta, com suas pedras, com suas grades, com suas moças - como uma montanha que por favor de Deus se deslocasse sem perder sua estabilidade fundamental para devolver à boa gente mineira o fruto amadurecido de sua generosidade. Eu penso que esse priorado que se instala em Belo Horizonte (MOSTEIRO DE NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS, fundado em Belo Horizonte no ano de 1949) vai explicar melhor - na minha próxima visita - o mistério de Belo Horizonte. Vocês serão para mim mais do que nunca BENEDITINOS, e, portanto, ainda mais mineiros!" (transcrição de "O Diario"de Belo Horizonte).

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