sábado, 26 de fevereiro de 2011

GEORGES BERNANOS AMIGO DO BRASIL

Em artigo publicado na França em 27/12/1945, GEORGES BERNANOS escreveu o seguinte: "Há 7 meses, enquanto aguardava no RIO meu regresso à Europa, pude escutar num meio-dia de radioso inverno brasileiro a notícia da rendição da Alemanha espalhar-se em todos os quadrantes dessa incomparável cidade. Agradeço a Deus ter vivido esse dia. Agradeço a Deus tê-lo feito tão belo, tão puro! Gostaria de poder conformar sempre com ele o meu coração. Amigos distantes do Brasil, aos quais voa agora meu pensamento, é exatamente num momento como esse que eu teria querido dizer- vos adeus. Mas, enquanto eu viver, a palavra e a ideia de vitória não me ficarão inseparáveis do horizonte sublime que eu tinha então sob os olhos. Isto me satisfaz. Um homem pode viver muito bem de um pequeno número de lembranças, e um mais pequeno número ainda provavelmente lhe basta para sua agonia. Sejam quais forem as provações que me esperam, estou certo de que encontrarei na sua tristeza a lembrança dessa hora gloriosa, assim como um diamante sob as cinzas! Seis meses já se foram, o ano está se acabando já, não importa! Amanhã como ontem, aqui como no Brasil, eu falarei por aqueles que não querem ser enganados, que não confundem a ilusão com a esperança. A esperança é um ato heroico e desinteressado da alma de que os negligentes ou os imbecis de modo algum são capazes. Neles a ilusão substitui a esperança. Eles tomam um veneno por um alimento. Porque a ilusão é um veneno, repito, ao mesmo título e pelas mesmas razões que a heroina ou a morfina. Ela enfraquece o juízo, degrada as vontades. Sim, alguns entre nós existem que, mesmo em 1940, jamais duvidaram da vitória, tinham na vItória uma invencível esperança. Esses nunca saberiam suportar ser confundidos com aqueles que a propaganda jamais cessou de sustentar com mentiras, como se procura entreter a vida de um moribundo com injeções ou balões de oxigênio. Apesar disto eles foram até o fim, sim, mas eles não foram até ao fim da guerra, foi ela, a guerra, que foi até ao fim desses infelizes. Eles sofreram a guerra e se preparam para sofrer a paz. Sofrendo passivamente a guerra, facilitavam talvez o papel daqueles que a faziam. Mas a paz exige muito mais que o otimismo ou a docilidade. É muito menos fácil reconstruir um mundo que destruí-lo, ou antes, para destruí-lo basta a raiva e o medo, ao passo que a paz é uma obra de generosidade, de inteligência e de amor" ("SI VOUS SAVIEZ', pp.107).

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