quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

"DEUS E OS HOMENS" - 4

A chegada em casa foi muito penosa. Dir-se-ia que uma morta muito amada acabava de ser levada e conduzida a uma vida muito melhor! Seus livros, desenhos, tudo ficara no mesmo lugar. O piano fechado. No quarto, seus vestidos pendurados; e, abandonados, os múltiplos objetos de uso pessoal conservavam o traço do último gesto que ela fizera para colocá-los ali, para arrumá-los. A menor coisa continha uma recordação que avivava as saudades. Esta dor manteve-se pungente durante muitos e muitos dias. Quantas vezes, bruscamente, durante seu trabalho no escritório ou em casa, junto da esposa, Matias era invadido por um desejo louco, insuportável, de rever a filha! Ao meio-dia, quando vinha para o almoço, pelo caminho dos castanheiros, não a via mais correndo ao seu encontro. Não ouvia a vozinha clara que cantava enquanto ajudava a mãe num ou noutro quarto da casa. O silêncio agora era completo. No cabide da entrada continuava pendurado o casaco verde de gola de pele. Matias sabia o quanto sua mulher sofria com a ausência da menina, mas ela levava sua dor com calma, com a generosidade da força que lhe era dada. Ambos sentiam-se felizes com a felicidade que Ana Marieke possuía! Os filhos, os três incluindo-se Jean François, entregues a Deus rezavam continuamente pelos pais e o sofrimento destes foi-se tornando mais suave, mais calmo: foi aceito como uma dádiva nova e rica. A ausência de Ana Marieke manifestou-se depressa como a aurora de uma nova luz na vida. Aos poucos começaram a experimentar esta nova e profunda realidade. Seus três filhos estavam presentes. Pai e mãe conheciam a oração dos filhos e ressentiam seus efeitos. Encontravam-se todos no amor de Deus, no abismo de seu coração, indissoluvelmente unidos. Só lhes restava esta solução: permanecer nas profundezas de Deus onde, juntos os cinco, viveriam na mais íntima união!"

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