quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

"DEUS E OS HOMENS" - 3

Em 1929, já de novo em Paris, uma nova vida começava para Matias, Ana Maria e a filha. Parecia a Matias que a tentativa sincera de uma restauração católica da sociedade chegara tarde demais nesse pós-guerra. "A condenação da doutrina política e pagã da "Action Française", de alguns livros, de certas atitudes de Charles Maurras tinha perturbado gravemente o seu equilíbrio. Um dia exclamou bruscamente: "É Satanás que está sentado na cátedra de Pedro". No mundo da literatura, a mesma situação confusa. Certa noite, o casal pôs-se a falar de Ana Marieke. Ana Maria tocou logo no assunto: "nossa filha está convencida de que irá para o convento daqui a um ou dois anos, mas isto não se dá sem luta. Sinto nela às vezes uma espécie de melancolia. A morte de Jean François e a partida de Pieterke fizeram-na sentir-se só. Em maio de 1930, o bispo dos estrangeiros em Paris solicitara de Matias hospitalidade para o padre Basílio e sua esposa. Basílio era um russo que depois do diaconato se casara de acordo com os costumes da religião ortodoxa e depois se ordenara sacerdote. Convertido ao catolicismo, fugira de Moscou. Viajando pela Espanha e pelo México, deste regressou à Europa, quando da revolução comunista de 1926. Solicitou ao Papa sua admissão na Igreja Católica com a autorização de permanecer fiel ao rito oriental. Numa visita de Matias e Ana Marieke ao filho beneditino, a jovem conversou longamente com a abadessa de uma abadia vizinha, ficando decidido que dentro de um ano ela entraria para a Abadia com o nome de irmã Cristina. Fixou-se a data de entrada de Ana Marieke para o dia 12 de outubro. Neste dia, Dom Abade saiu do átrio de sua abadia, seguido por Pieterke, e, já todos reunidos, dirigiram-se para a Abadia de Notre-Dame. Entraram na igreja abacial e ajoelharam-se na parte reservada aos fieis. Dom Abade fez sinal a Ana Maria que o acompanhou. No final de um longo corredor, a porta da clausura. Sozinho, Dom Abade avançou e bateu na porta. A porta se abriu, deixando ver a Abadessa e a Mestra das Noviças. Sem sequer voltar a cabeça, Ana Marieke acompanhou as religiosas. E a porta fechou-se de novo. Naquela mesma noite, Matias e Ana Maria tomaram o trem de volta a Paris.

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