sexta-feira, 3 de outubro de 2014

ADEUS   A   PARIS

"Imagem que levo dessa flor suprema  da civilização humana, imagem da FRANÇA, vejo no PARIS de 1950 uma cidade mutilada mas em luta, uma cidade viril, que recomeça a viver depois de 10 anos de pesadelo, não com desespero nem com leviandde, mas com a consciência de que a vida recomeça depois da tempestade. Deixo lá nesse Norte, brumoso e úmido, um PARIS que desperta cedo para acompanhar ansiosamente as teses ou as paixões humanas, que durante o dia ou à noite se chocaram no Parlamento, se expuseram nas cátedras, se discutiram nos cafés ou se agitaram nas cenas ou nas telas de salas, todas cheias de um público sempre atento, ávido, discutidor e apaixonado. Deixo um PARIS  que vive intensamente , que dorme pouco,  que está intensamente atento e presente a todos os acontecimentos, a todas as ideias não só daqui mas de todas as partes do mundo. Um PARIS de pé no centro do mundo, entre os dois colossos  do Oriente e do Ocidente, que tentam dominar o século XX e dois pequenos Estados Europeus, ao norte e ao sul,  de que não se costuma fazer muito  caso, hoje em dia,  quando se faz o balanço do século - Portugal e Suécia -  mas que representam por sua vez, em extremos opostos, outra forma de solução: a solução pelo isolamento. Do fundo de uma minúscula aldeia do Lyonnais envio o meu adeus filial e comovido a essa cidade sem par que conseguiu ser uma metrópole sem deixar de ser uma aldeia. É ali, a duas horas de avião, o PARIS febril e friorento que deixei esta manhã. Meu PARIS decorativo que em menino  me revelou os deslumbramentos policrômicos  de sua Exposição Universal. Meu PARIS dionisíaco que, na adolescência, me revelou mundos desconhecidos e perturbadores. Meu PARIS apolíneo que em moço me ensinou a amar a beleza e a pensar pela mente dos seus sábios. Não foi nenhum destes que deixei esta manhã, recolhido e sombrio. Foi um PARIS ainda mais belo e comovente que qualquer desses três anteriores. Um PARIS que eu vi, o PARIS que acabo de viver, mais uma vez,  ao cabo de 36 anos de ausência, Adeus, flor da civilização. Só tu , depois de Roma,  podes dar aos homens de hoje a luz que os guie nas trevas em que andamos mergulhados. Adeus, sentinela do mundo, guarda da beleza e da medida, chama da graça e da esperança! ( "EUROPA  DE  HOJE", Tristão de Atayde).

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