sábado, 25 de outubro de 2014

PÁBULO   ESPIRITUAL

Em carta de 27/12/1927 TRISTÃO confessa ao amigo JACKSON  de  FIGUEIREDO estar bastante passado com a perda de um primo muito querido. Criados em criança muito próximos, sempre viveram muito unidos pelo coração. Era um católico fervoroso, praticante sempre. O enterro foi o de um justo, o espetáculo mais tocante que já tinha visto. De uma filhinha  a quem pedira rezasse pelo primo doente ouvira a seguinte frase: "Papai, não adiantou nada tanta reza pro Papai do Céu". "Se você, escreveu Tristão, conhecesse aquela gente (do primo), se ouvisse a mulherzinha desse rapaz, para quem ele era tudo, tudo, pois nem filho deixou, não desesperada mas com aquela dor lúcida e infinitamente triste de quem foi ferida "injustamente", se você  a visse chamar de bárbaro a Jesus que lhe levara o amor de sua vida e com quem ao mesmo tempo falava no céu como se o marido de lá de cima a visse, numa fé de criança, se você visse o Pai do meu primo, homem também profundamente religioso, não ter nem uma palavra de indignação e mandar rezar uma missa de corpo presente na sua capela particular, e ajoelhar-se ao altar na volta do cemitério, aceitando tudo, ah! que momentos!  E que reflexões! Como explicar isso? Como a idéia do acaso volta a verrumar a gente! A morte por acaso, que topa a gente na esquina, e nos despacha cegamente, sem ver se é um crápula ou uma alma de ouro, como essa que se foi! Eu bem sei quanto é vão raciocinar sobre o irracionável". Observação: em nota: "Dom Basílio Penido, beneditino, anotou  à margem das últimas frases de Tristão o seguinte: "Sede perfeitos como o vosso Pai celeste,  o qual faz nascer o sol sobre  os bons e sobre os maus, que faz cair a chuva sobre os justos e os injustos". 

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