UMA SENZALA NO CARAÇA
Neste DIA da CONSCIÊNCIA NEGRA, aprecie por oportuno este poema do PADRE PEDRO SARNEEL:
"Olhando do patamar da igreja para a Casa das Sampaias vê-se no alto do seu quintal, que já foi delicioso pomar, uma RUÍNA. Um fragmento de muro da antiga SENZALA DO CARAÇA. Contempla, romeiro, aquele destroço da escravidão. Lembra o passado. E canta um hino de louvor e gratidão aos NEGROS fortes e espadaúdos que deixaram saudosos a costa da África, atravessaram, entulhados em porões, o imenso Atlântico. E vieram trabalhar e suar na construção do SANTUÁRIO da SENHORA MÃE dos HOMENS. Moravam lá onde ficou até hoje aquele alto e longo paredão que, graças a Deus, o tempo não desmoronou de todo, para que nos faça lembrar ainda e cantar sempre a humilde mas real colaboração de piedosos escravos na formação e perpetuidade do monumento nacional que é o CARAÇA. Tinham vindo de Angola e Bengala. Chamavam-se os primeiros Mamede e Mateus, João Pequeno e João Velho. E depois destes vieram outros. E todos trabalharam muito. E a todos - narra o mais antigo cronista do Caraça - os padres do caridoso São Vicente de Paulo deram LIBERDADE. Repousam seus ossos onde estás pisando agora. À direita descansam os homens. À esquerda dormem as mulheres. Adro sagrado da igreja serve-lhes de cemitério, ou antes de SENZALA bendita de onde hão de ressurgir um dia para irem ao encontro do Cristo Libertador, em companhia de seus irmãos, os santos escravos Porfírio, Agrícola, Felicidade e Blandina. Canta, bom peregrino, canta! São tão poucos os que celebram as glórias dos ESCRAVOS e lhes agradecem as obras. Canta ainda, romeiro, e ouve debaixo de teus pés as ossadas que se agitam, estremecendo de alegria... no gozo de sua LIBERTAÇÃO! ("GUIA SENTIMENTAL DO CARAÇA", PP. 178-179).
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
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