sexta-feira, 22 de novembro de 2013

49   ANOS   SEM   KENNEDY   e   SEM   JÂNIO

Rio, 20/01/1964. Eis o que escreveu à filha  TRISTÃO  de ATHAYDE  dois meses depois da morte de Kennedy:  "Na data de hoje (20/01/1964), no ano de 1961, foi a posse de KENNEDY e foi também o dia da chegada do JÂNIO, que iria tomar posse no dia 31! Que coincidência!  E eu escrevi no meu diário nesse dia apenas a palavra "ESPERANÇA", duas vezes, assim: "Posse Kennedy! Esperança!!""Chega JÂNIO! Esperança!" Tenho até um arrepio quando, apenas três anos depois, penso em tudo o que houve. Kennedy assassinado, Jânio deposto por si mesmo (na frase que tanto irritou o meu eminente ex-amigo (Corção), hoje no Index...):  "Por terra as duas grandes esperanças desse dia 20 de janeiro de 1961! "Que tremenda lição! Lição de revolta  ou de conformidade? Evidentemente nem uma nem outra. Lição de aceitação plena da vontade de Deus e consciência de que todas as "esperanças" terrenas são frágeis e vãs como nuvens sem chuva... Tudo vão, vão, inútil. Por terra. O vento passou, a morte e a loucura levaram  as duas esperanças políticas do dia  20 de janeiro de 1961 e aqui estamos a 20 de janeiro de 1964, com os dois sucessores constitucionais  dessas duas grandes esperanças políticas, ambos medíocres, ambos legais, ambos vulgares, ambos de boa vontade, males menores - se quisermos -  mas sem nada, nada, nada daquilo que, nos horizontes universais, despertou o KENNEDY, com toda a sua juventude aberta e solar. E, no plano nacional,  esse moralizador imoral, que no auge da luta é apeado pelo clamor dos seus partidários da véspera, que esperavam nele um aliado a serviço dos seus  ideais retrógados e o desceram do pedestal onde ele não teve coragem de ficar, mostrando que realmente nào tinha a fibra que o jovem  assassinado de ontem tinha para dar! Tudo isso é o veu da decepção  que desceu sobre este meu fim de vida e só não altera a minha equanimidade porque há já muito (desde 1928) que não espero nada nem dos homens nem das instituições humanas e por isso mesmo vivo em perpétua  disponibilidade e numa paz interior que me consola do afastamento total de todos os meus amigos de outrora, sem contrair novos (essa última frase  taalvez seja exagerada e pessimista e portanto deve ser riscada).  O que quis dizer é que, abandonando os meus amigos da direita (ou sendo por eles abandonado), colocando-me (como quero colocar-me) acima da direita e da esquerda, não me incorporei a nenhum grupo de esquerda. E prefiro ser acusado - como foi Romain Rolland, quando em 1914 se declarou "au dessus  de la mêlée" - de diletantismo ou de pilatismo (lavar as mãos) do que de me deixar infiltrar pelo fanatismo! E todas essas decepções, na realidade,  só o são da boca pra fora, pois realmente nunca esperei nada do mundo e das coisas do mundo, ao menos desde 1928. E todas essas decepções, desde o Centro Dom Vital até o Kennedy,  tudo só faz confirmar, e de vez em quando atiçar o fogo autêntico da Fé,  que me  ensina a só  esperar de Deus. E Ele nos alimenta a Fé, precisamente com a lenha das decepções humanas".

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