terça-feira, 19 de janeiro de 2016

CARTA  DE  MÉRTON  A  TRISTÃO

"Foi um grande prazer receber sua carta.  Antes de mais nada,  não precisa se desculpar por ter-me escrito em Português. Gosto muito de ler o Português, embora não me seja possivel escrevê-lo corretamente.  É   uma LÍNGUA  que aprecio muito, aconchegante e luminosa, uma das línguas mais humanas que conheço.  É muito expressiva, é até de certo modo um tanto inocente. Talvez esteja dizendo isto subjetivamente, sem ter lido tudo que pudesse esclarecer-me, sob outros ângulos.  Mas parece-me  que ao PORTUGUÊS ainda não chegaram  alguns barbarismos, como há na Alemanha, no Inglês, no Francês ou no Espanhol. Também  gosto muito  dos  brasileiros. Estou sempre desejando traduzir JORGE  DE  LIMA. Possuo os poemas de MANUEL BANDEIRA   e  DE  CARLOS  DRUMOND  DE  ANDRADE  e  DE VÁRIOS OUTROS POETAS. GOSTO DE TODOS ELES e  OS LEIO TODOS. Agora vamos aos assuntos de sua carta.  Acho muito importante trocarmos idéias de vez em quando. Estamos num momento crucial, e  mesmo calamitoso, da história.  Um momento em que a razão e a compreensão estão ameaçadas de serem destruídas,  ainda que o homem consiga sobreviver. É muito bom que eu medite estas coisas aqui, abrigado no meu mosteiro. Mas há momento em que mesmo este meu abrigo  me decepciona um pouco. Hoje em dia tudo decepciona. E sementes de erros  plantadas numa estufa bem protegida podem tornar-se gigantescas árvores mortíferas" ("SEMENTES  DE  DESTRUIÇÃO", de THOMAS MÉRTON, 1966).

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