A ERMIDA DO IRMÃO LOURENÇO
Depois de duas horas mais ou menos de caminhada, chegamos, enfim, à espécie de planície em que está situada a ermida de NOSSA SENHORA MÃE DOS HOMENS. Fica-se chocado em avistar assim de repente um edifício tão vasto a tal altitude e tão longe de todas as habitações. Lá chegando, encontra-se o viajante em uma plataforma em cuja frente se plantou uma fileira de palmeiras que confundem suas elegantes folhagens. Nessa plataforma erguem-se as construções da ermida, separadas em duas partes, que fazem face uma à outra. Uma escada, colocada entre ambas as porções do edifício, conduz a um patamar ao nível do seu primeiro pavimento, e, além do mais, juntamente com a igreja, construída em plano mais recuado, forma de qualquer modo o corpo principal do edifício do qual as construções laterais representam as alas. Toda a fachada do edifício , desde a extremidade de uma das alas até a da outra, mede cerca de vinte e três passos, e cada ala apresenta, no primeiro andar, seis janelas bastante espaçadas. A escadaria conta 18 degraus: depois dos quatro primeiros chega-se a um patamar de repouso, e os catorze degraus que vêm em seguida, mais estreitos que os outros, são marginados de ambos os lados por um corremão de pedra de bastante bom gosto. À volta do terraço existe um parapeito semelhante ao da escada. Depois da porta da igreja está uma espécie de pórtico formado por dois pilares que sustêm o coro em que foi colocado o órgão. A igreja é estreita mas muito ornada e possue magnífica prataria, constante de grandes candelabros dourados de contorno irregular como os de todos os demais templos. Em volta da igreja há um corredor em forma de ferradura que não se comunica com ela; penetra-se nele por duas portas exteriores, e em seu interior se encontram capelas colocadas a certa distância umas das outras. Sobre o altar de cada uma existe uma imagem encarnada de madeira que representa o Cristo em algumas das atitudes de sua paixão. Essas imagens estão longe de ser obras primas; têm todavia suficiente expressão para que facilmente se reconheça a intenção do artista, e não se pode deixar de admirá-las quando se sabe que foram esculpidas por um homem que jamais tivera modelo ao alcance, e vivia na solidão, nos confins da região dos Botocudos. As duas mais notáveis e ornadas capelas acham-se fora do corredor que acabo de descrever; estão colocadas uma em face da outra, ao fundo das próprias construções da ermida, ao nível da espécie de pórtico que faz parte da igreja. Sobre o altar da capela que se acha à direita estão várias figuras em madeira representando alguma cena da paixão. Na colocada à esquerda vê-se um corpo em cera, ricamente vestido, que encerra relíquias recebidas de Roma ("Viagens pelas Províncias do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, por Augusto de Saint-Hilaire).
segunda-feira, 5 de outubro de 2015
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário