terça-feira, 26 de agosto de 2014

O  TRISTÃO   POR   DENTRO  -  2

O diálogo de alta tensão entre TRISTÃO e o pai em janeiro de 1919 pelo desinteresse do filho em relação à direção da fábrica do pai expõe ainda o sofrimento do filho assim narrado: "Cena tremendamente dramática! Uma das cenas culminantes da minha vida!" Confessa que mais tarde, narrará o itinerário  de sua vida e de sua época em seu coração dilacerado por dois ideais contraditórios, porque sempre viveu sob o signo de uma estrela dupla!" E prossegue: "A frase de meu pai me deixou achatado, humilhado. Tanto mais que ele, passada a cólera,  voltada a serenidade, vendo em mim o que ele fora outrora (como tudo isso adquire uma luz profunda, quando revejo de novo a cena,  com a minha mentalidade de agora, com os meus 34 anos, a minha experiência e a minha FÉ, isto é, a volta à compreensão da importância dos detalhes!) - ele me disse que também pensara como eu, em moço, e que no fundo do seu coração ele estava também com os operários, mas que havia um dever a cumprir e que era necessário ser coerente com a vida que levamos, etc. E eu senti desde esse dia o absurdo de minha fé socialista e comecei a lutar por arrancá-la do coração. Lentamente o consegui e cheguei a considerar-me justificado em minha posição de industrial. Lancei-me no movimento modernista e tive ORGULHO de ser industrial, chefe de MIL homens, transformador da água  do rio que você viu (Rio Carioca) em energia, e não um reles funcionário público ou um pobre professor da roça. Chefe de indústria, criador do Brasil moderno. Um homem enfim na vanguarda.  E todo o sonho socialista se desfazia como névoa numa manhã de sol. Quando cessou minha fé socialista e consegui chegar ao equilíbrio  do homem que vê no homem o fim da vida, quando cheguei a esse planalto, começou sutilmente um trabalho  interior que hoje reconheço que era talvez o primeiro contato inconsciente com a GRAÇA. E contar como o SOCIALISTA de 1919, convertido no dinamista de 1921,  chegou hoje ao cristão de 1928, seria obra de todo um livro que devo um dia escrever, se Deus quiser que eu conte como cheguei dolorosamente a ELE! Será para os 70 anos! Quando achar na vida o encanto de reviver o passado!"

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