domingo, 10 de agosto de 2014

CARTAS  QUE  MUITO  NOS   ENSINAM

Em carta de  07-08/05/1928  JACKSON de FIGUEIREDO escreveu a TRISTÃO de ATHAYDE:  "Li todo seu artigo sobre a RÚSSIA...mas a "ORDEM" não poderia publicá-lo. Para que levar às massas urbanas as sugestões da Rússia Revolucionária? Pense nisto!"  Como resposta Tristão escreve em 08/o5/28 o seguinte:  "Traduzi o artigo para o conhecimento melhor do foco irradiador da maior ameaça contra nossa civilização.  Gosto de ver por dentro o ponto de vista do adversário, para o público ter  condições de ver o que há por lá. Eis meu pensamento: nossa civilização caminha para a ruína, pela perda da fé em si mesma, esta fé só pode voltar por um rejuvenescimento que só voltará pela convicção  de possuirmos um patrimôbio moral, intelectual, espiritual a defender.  Como hoje em dia nossa civilização é apenas uma casca para esconder uma imensa decadência  moral, e como  essa casca, ao primeiro golpe  sério, leva a breca, como levou na Rússia e no México e na Espanha, devemos olhar para essa revolução russa, de dentro, do fundo, não distraidamente como uma coisa longínqua, mas como de importância fundamental no mundo moderno. A mocidade sulamericana está impregnada de comunismo. É preciso estudar esse fator como elemento espiritual fundamental e não como simples ameaça  social, de bombas. etc. E o espírito só se cura com o espírito. Eu penso que deve ocultar dos leitores as realidades sensuais, tudo o que de verdade  houver mas que possa levá-los ao demônio dos sentidos. Contra os sentidos a tática de ocultar é uma tática necessária, pois o conhecimento dos sentidos é perigoso, dissolvente, destruidor. Fugir ou esconder é o melhor meio de reforçar a defesa pela inatividade dos órgãos. Mas com as verdades que apelam à inteligência, eu penso que o contrário deve ser feito. A tática é revelá-las sempre, sem esconder argumento algum, discuti-los todos  à luz do dia. A realidade comunista é uma dessas verdades que exigem ser reveladas, para sabermos como nos defender. E nossa civilização só se defenderá voltando às suas origens. E essa volta às origens é um esforço quase sobrehumano, para que todos vejamos de perto o perigo, suas seduções, para termos a força de voltar, de refazer em nós um equilíbrio abandonado". Observação: Tristão, como condescendendo à sugestão do amigo  Jackson assim termina a carta: "Enfim você conhece melhor que eu o nosso meio. E a verdade, ou antes, a tática de propagar a verdade num meio de ignorantes e de fofos como são os nossos patrícios, talvez seja outra do que a que julgo necessária" ("Correspondência -  Harmonia dos Contrastes, tomo segundo).

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