segunda-feira, 12 de maio de 2014

ALCEU   ETIAM   MORTUUS    LOQUITUR

Em 1950 TRISTÃO, "de visita a Versailles   nos deixou, à reflexão,  o seguinte trecho: "Há 50 anos podíamos apreciar Versailles como se todo aquele marcialismo fosse apenas um momento ultrapassado da História.  Hoje sentimos como tudo aquilo  continua monstruosamente  vivo no coração dos homens. O comunismo de hoje com o seu culto do Exército Vermelho como o único instrumento de civilização do século XX está em germe  nas galerias de Versailles.  Quando em 1913 eu as visitava como turista não podia de longe imaginar o que hoje sentiria em face delas, não mais como espectador, mas como ator,  não mais como turista mas como peregrino das ruínas e das esperanças de um mundo em ebulição como é esta velha Europa cada vez mais mais viva, mais nova,  mais errada e ao mesmo tempo mais certa e mais rica em possibilidades de renovação. A terceira observação nova que Versailles me despertou nessa visita é apenas um complemento da primeira. Para um regime que se inspirava esteticamente na Mitologia, a capela só podia ser o que ali está: uma sala de teatro sem nenhuma ligação da aristocracia com o altar! O altar fica lá em baixo, junto aos bancos onde a "valetaille"ou quando muito a burguesia se acotovelava. Quanto a aristocracia, era de lá de cima, entre colunas coríntias e de palanque,  que assistia às missas solenes, mero pretexto para inserir a Igreja como uma condecoração a mais no peito da Monarquia Absoluta de direito divino. Nada de mais chocante, de mais expressivo,  do que essa capela de Versailles, mero apêndice dos apartamentos do Rei, da Rainha e da Família Real. É a expressão arquitetônica viva da grande chaga que não podia senão terminar em 1789. Por  mais que o palácio seja agora apenas um museu,  a história de tal maneira se impregnou em seus muros que não podemos percorrer tudo aquilo sem que os séculos também  nos acompanhem  e tiremos algumas lições daquele esplendor periclitante"("EUROPA de HOJE", ALCEU AMOROSO   LIMA).

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