sexta-feira, 9 de maio de 2014

À  MINHA   MÃE

Abro os braços e corro para os teus braços abertos. Há uma força imperiosa que me impele para o teu carinho, um poder mágico que me atrai para o teu culto. Levo na cabeça um mundo de pensamentos sagrados, que são teus,  só teus! Um turbilhão de sentimentos bons alvoroçam-se no meu coração afloram-me aos lábios em palavras mansas de ternura, de afeto e de gratidão para segredar-te aos ouvidos...  E vês tu, mamãe? Mal os teus braços me colhem e os teus lábios pousam como bênção divina sobre os meus cabelos - suave aniquilamento me vence, cerra meus lábios e fico pequenino, mudo, imóvel,  esquecido e ditoso  sob a proteção do teu carinho, a sentir a doce e santa emoção desse instante feliz! Há no teu olhar uma luz cuja natureza não sei explicar - mas cuja doçura sinto cantar-me dentro dalma, no recolhimento desse instante de emoção inefável: claridade descida do céu, coada através dos teus olhos para iluminar o caminho da minha vida. Nos teus lábios que me beijam, tão mansos,  como se eu sentisse sobre a epiderme o contato macio de uma corola de seda - um sorriso bom abre asas discretas e canta, em surdina,  uma música que só as almas podem ouvir - a ária da felicidade! Longe de ti, eis o que sempre peço: "Deus, fortificai-me  sempre com a ternura e com a bênção de Mamãe! Permiti que eu seja a força que a proteja e a ampare, quando os seus cabelos estiverem brancos como o luar e seu corpo cançado como a árvore que foi cheia de ninhos e deu boa sombra, e quando os seus olhos se iluminarem apenas com essa claridade mística que vem de longe, de um remoto passado! Protegei-a, Deus misericordioso pelo muito que ela me ama!   ( Do livro "ILDEU", usado na minha escola primária, 1938).

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