quarta-feira, 11 de julho de 2012

DEUS SABE A HORA

THOMAS MERTON escreveu que "a alma do homem, deixada ao acaso de sua esfera natural, é um cristal potencialmente lúcido deixado nas trevas. Perfeito em sua natureza, falta-lhe qualquer coisa que só pode vir de fora e de cima de sua condição. Incidindo-lhe a luz, nesta se transforma de tal modo que, parecendo perder a anterior natureza, muito maior se torna o esplendor da natureza maior que passa a residir ali". Foi o que ocorreu com o autor deste pensamento, quando, regressando certa noite ao hotel em Paris, de madrugada, deparou-se na entrada com uma freira que lhe sorriu. Bem longe de Deus então, bastante confuso, tomou a chave do quarto e, antes de fechar o elevador, lançou um olhar curioso sobre a jovem que de novo lhe sorriu. No dia seguinte, perguntou ao porteiro quem era aquela freira. E a resposta obtida mais ainda o confundiu: fora pura ilusão ou alucinação que tivera, impossível freira naquele momento achar-se num hotel em Paris a sorrir para ele! Dias depois, visitando um amigo num hospital viu na parede o retrato da freira que lhe aparecera e que lhe disseram ser SANTA TEREZINHA DO MENINO JESUS. Estes dias, conhecido articulista da Folha, por alguns leitores não aceito por distanciar-se bastante de suas idéias filosóficas, inclusive por não acreditar em Deus, deixou-me página que sempre leio com prazer por nela encontrar autenticidade existencial. Perdido num aeroporto, ambiente que detesta, abordou-a simpática senhorita indagando-lhe em que poderia ser-lhe útil. Assustado pelo inusitado, antes que respondesse, a gentil mocinha o fez sentar-se a uma mesa e lhe apresentou o menu. Serviu-o com encantadora simplicidade e jovialidade e, concluindo os afazeres do ofício, depois de feito o asseio da mesinha, vendo o jornalista partir, lhe disse: "Vai com Deus!" "Quando um raio luminoso fere um cristal, dá uma nova qualidade ao cristal. Quando o amor desinteressado de Deus bate numa alma, acontece o mesmo fenômeno. E isso é a vida chamada a graça santificadora!" ("A Monanha dos Sete Patamares", Thomas Merton, pp.188).

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