quinta-feira, 4 de agosto de 2011

EXUPÉRY PERDEU A FÉ DA INFÂNCIA?

A defesa contra as críticas desfavoráveis à religiosidade de Exupéry são extraídas quase sempre de suas obras, principalmente de "CIDADELA". Observe-se, antes de tudo, que ações tidas como de caridade, maxime quando praticadas por politiqueiros, não são obrigatoriamente prova da grandeza de uma alma. De Exupéry conhecemos melhor seu procedimento exterior por se tratar de uma glória nacional, de um Exupéry oficial, mas quase nada de sua vida íntima. Daí ele declarar que seu eu íntimo deve ser buscado não no cotidiano banal, superficial, de seu dia a dia, mas, sim, em seus escritos. Em carta a sua mãe, escreve: 'E difícil falar-se da nossa vida interior, devido a um certo pudor. Entretanto é a única coisa que tem valor para mim. O que escrevo é o resultado escrupuloso e refletido do que penso e creio". Esta justificativa assemelha-se bastante, "mutatis mutandis", ao que se contém no dito popular: "Não faça o que faço, faça o que digo!" Seja como for, o Padre Barjon que o conheceu na adolescência confessou que não se podia pressentir o "gênioo que depois se revelou, observando que" um abismo separa a aventura mais ou menos autobiográfica, revelada em "CORREIO DO SUL", do que se lê na "suma bíblica ou corâmica" de "CIDADELA". Não se esqueça de que a época da perda (ou eclipse?) da fé de Exupéry ocorreu no período compreendido entre a primeira e a segunda guerra mundial do século passado. Período esse tido por todos os historiadores como de grandes inquietações políticas, artistícas, sociais, religiosas, etc. No Brasil, a conversão de Jackson de Figueiredo, de Tristão de Athayde, etc. Com Exupéry a transformação ocorrida foi em sentido contrário: da prática do catolicismo ao seu esquecimento. E aqui vale lembrar também o caso de Thomas Merton, convertido, que se tornou monge durante a segunda guerra mundial. Exupéry, um ser formado no cristianismo, uma vez liberto da tutela de um lar piedoso, da tutela de colégios católicos, "quis refazer suas ideias religiosas através de buscas de pesquisas pessoais", na idade de 18 anos em diante, quando "perdeu" a fé. Pergunto: terminada a segunda guerra mundial (1939/1945) não passou o mundo, de novo, por transformações bastante mais radicais sob vários aspetos? Pense-se, por exemplo, no que se verificou na Igreja Católica com a defecção de centenas de seus membros tanto no seu clero religioso como no diocesano, reflexo indubitável da evolução do espírito humano nos diferentes campos das atividades, nos costumes sociais, na formação da infância, adolescência e juventude, paralelamente ao progresso contínuo da ciência, da indústria, etc. Resumindo: até o desfecho do dia 31/07/1945, Exupéry "procurou um Deus que ele já havia encontrado" (Clément Borgal). O Deus-Menino, encarnado em Jesus Cristo, enviado pelo Pai como Redentor de um mundo atingido não apenas nas asas, mas no seu todo, em pleno deslizar no espaço e mergulhado num mar de profunda melancolia. Ó feliz culpa, porém, do causador na Terra dos Homens de tamanha desgraça que teve como recuperador ou inventor do que se perdera o Filho de Deus encarnado! "O felix culpa quae talem ac tantum meruit habere Redemptorem! "

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