sábado, 14 de maio de 2016

TRISTÃO   À   PORTA   DA   IGREJA

São Lourenço, 10 de julho de 1960.
(...)
Nesse tempo, em 1914, e nessa excursão (em Veneza),   entrei nas igrejas como simples turista à procura de belezas artísticas. Estava então em pleno...culturalismo. E as conversas com o E.(refere-se ao amigo Eddy Macedo que tentou convertê-lo) não me haviam em nada abalado as... descrenças. Só mesmo o  choque  do encontro com o Jackson de Figueiredo ia sacudir essa lerdeza", isto mesmo tão pouco profundamente que até hoje,  cada dia,  me queixo de mim mesm e desse relaxamento de fibras interiores que os vinte anos do estado de espírito de então me deixaram. E de que o pequeno episódio do Hotel Danieli, de um jovem de 20 anos, no fim do mundo antigo (século XIX), segurando, em Veneza, nervosamente,  a cabeça entre as mãos, à procura de si mesmo e de sua unidade interior perdida. E no entanto foi por essa época, ou antes (?) ou depois (?), que li  o Dominique, de Fromentin (escritor e pintor   francês; a frase inicial de Domenique quer dizer: "Pus-me  de acordo comigo mesmo), um dos livros que me impressionaram na minha mocidade, e senti, como se fosse minha, a frase inicial que tantas vezes tenho repetido: "Je me suis mis dacord avec moi même". Em Veneza eu queria segurar com as mãos não apenas a testa, mas as idéias dispersas que me puxavam  de um lado para o outro, sem que eu soubesse ao certo "quem era o meu eu verdadeiro". Mas ao mesmo tempo, ou pouco depois, o acordo que eu julgava ter feito comigo mesmo era o do "diletantismo". E como sibarita de formas e de idéias, é que passei pela Itália, suas igrejas e seus museus, em 1914" ( Carta de 10/07/1960 à sua filha Maria Teresa). 

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