terça-feira, 16 de outubro de 2012

FINADOS... ME LEMBRA 0 HORÁCIO!

Nenhum dos atuais alunos do vizinho Colégio Santo Inácio ouviu, por certo, falar do HORÁCIO. Era o HORÁCIO um filho de Deus muito especial que, desde que por aqui me assentei, há 40 anos, quase diariamente circulava pelos entornos do colégio dos jesuítas, na rua São Clemente. Era figura muito assídua nas missas de domingo na igreja que frequentávamos. Creio que o Cristo nunca o expulsou do templo por andar meio ajambrado, esquecido ou ignorante das adequadas vestes na presença do Senhor dos Senhores. Os fiéis rezando ou cantando, o padre falando, Horácio nem estava ali! Ia ligeiro da porta de entrada ao altar, percorria rápido os corredores laterais... ora se detendo diante de alguma pessoa para quem apontava o dedo num gesto de reprovação, balbuciando vozes sem nexo, sem que ninguém o extranhasse. Era assim a sua oração dominical. Nas ruas, nos passeios circunvizinhos, sua presença se misturava aos alunos a quem mendigava um pão com manteiga para uma média no bar da esquina da Eduardo Guinle. Certos dias, o mau humor lhe subia à cabeça. Parava em pé diante do tampo de um bueiro e destilava impropérios aos moradores de seus esconderijos. Não tinha noção de limpeza, mas A NINHUÉM FAZIA MAL, IMPORTUNAVA. E era muito querido dos alunos do Colégio. Tanto assim é que na formatura de uma turma foi merecedor de uma homenagem especial. Uma bela manhã, contou-me um policial da delegacia da Bambina, dois PMs levaram o Horácio algemado à presença do doutor delegado. Incomodava os transeuntes pela profusão de gestos e palavrões. Conhecedor antigo do criminoso, a autoridade policial dispensou os zelosos guardiães das ruas, fez o amigo sentar-se por uns dez minutos e abriu-lhe a aporta da repartição pública. Mas um dia houve em que o HORÁCIO desapareceu de nossas vistas. Contam que uma advogada o levou a um hospital e que de lá desapareceu ou fugiu.Meses seguidos, perguntamos pelo seu paradeiro. Nem o irmão soltava notícias dele. Nunca mais o amigo me premiou com um gesto mudo em resposta do cumprimento que sempre lhe dirigia, mesmo estando do outro lado da rua. Para onde carregaram o Horácio? Já lá se vão seis ou sete anos! Gostaria de vê-lo em casa no dia de Finados.

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