sexta-feira, 22 de outubro de 2010

POR ENQUANTO VOU BEM!

Muito se fala até hoje sobre o livro UTOPIA , romance político e social de TOMÁS MORUS (1480/1535). O qutor, hostil à propriedade individual, traça um quadro bastante detalhado de um Estado socialista e democrático. Chanceler de Henrique VIII, da Inglaterra, foi decapitado em 1535, por não ter querido reconhecer o poder espiritual do rei. O papa Pio XI canonizou-o em 1935: é o nosso São Tomás Morus. Lê-se em sua biografia que, inquirido certa vez, por que, sendo tão alto, se casara com uma mulher tão pequena, respondera jocosamente: " Ora! de dois males o menor!" Ao ser conduzido ao patíbulo, deteve-se por um momento, tirou do bolso do negro manto uma moeda de elevado valor que colocou na mão do carrasco, dizendo: "Guarde. Isto é para pagar o seu trabalho agora!" Quando governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, um dos mentores do golpe militar de 64, ao ser perguntado, nas visitas a Brasília ou Rio, como estava seu Estado de Minas: "Continua no mesmo lugar, obrigado!" , respondia matreiramente. Na época dos bondes no Rio de Janeiro, mal nascida a manhã, era costume o lazarista Padre Aquino tomar o bonde que diariamente o levava a Botafogo onde celebrava a missa. Sem lugar para sentar, tão logo o carro dava o sinal de acomodação das carcaças humanas, Padre Aquino, citadinamente tido como o sacerdote mais sociável do Rio, pisava de propósito no pé do vizinho, para puxar o fio de uma prosa que só se interrompia a contra-gosto ao final de sua viagem. Um dia, o Padre Eugênio Pasquier, francês, que foi provincial no Rio nos primeiros anos do século XX dos Padres Vicentinos, logo que se acomodou em pé no bonde bastante lotado, ouviu um gaiato dizer bem alto: "Só faltava esta!" Com voz forte, num sotaque gaulês, frente a vizinhos mal dormidos e meio assustados, o sacerdote caprichou na resposta: "Então, motorneiro, pode tocar, não falta mais nada!" Contou-me um mineiro, com escritório na Praça Sete, a do Pirulito, em Belo Horizonte, que, estando uma tarde na janela do escritório onde trabalhava, no décimo andar do prédio, notou, de repente, passar-lhe em frente, caído ou jogado ou pulado, de um dos andares superiores, uma pessoa que ele muito bem conhecia pelo nome. Reconhecendo-o num átimo, gritou-lhe: "Fulano, como vai???" Nitidamente ouviu a resposta bastante bem articulada: "Por enquanto vou bem!"

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