quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

JOÃO-DE-BARRO

Costumo, lá se vão quarenta anos, passar os fins de semana na bela Petrópolis, no bairro Bingen, num aprazível recanto, com vistas para a BR-040, plantada bem no alto da serra, sempre a me trazer o cheiro bom do café-com-leite mineiro e me levando em espírito e saudades para as bandas das terras por Gorceix definidas como "um coração de ouro num peito de ferro". Divertindo-me sempre no trato do trecho de terra que Deus me proporcionou, cuidando de plantas e flores, desfrutando à noite da visão de um dos mais belos céus estrelados do Brasil, como me confidenciou um dia meu falecido irmão Getúlio, e apreciando por demais a variedade de pássaros que nos visitam, nunca ali me aparecera sequer um JOÃO DE BARRO, bem como jamais árvore alguma me satisfizera o desejo de pelas redondezas vislumbrar pelo menos uma CASA, ainda que abandonada, do "dito cujo" filho alado do criador da natureza. Uma das riquezas de minha terra natal , Bonfim, Minas Gerais,era a profusão de casas de joões-de-barro a se equilibrarem nos galhos das árvores ou nos postes de eletricidade. Por vezes até numa superposição, dupla ou tríplice! De uns cinco anos para cá, porém, eis que dou com um casal deles caçando alimento em nosso terreno. A admiração que nutria pela espécie talvez decorresse da originalidade arquitetural de sua residência. Não sem razão ganhou o nome de "FURNARIUS RUFUS", do latim "furnaria"= "forneiro" (numa referência ao seu modo de construir seu ninho, com aspecto e configuração de um FORNO, "RUFUS", do latim "rufus" = "vermelho", "rubro"). Minha alegria, contudo, chegou ao apogeu, quando, cerca de uns três meses, o canto cascateado e gárrula e saltitante de um casal no galho muito alto de uma árvore do vizinho me encantou o olhar. Bem que vez ou outra dera com um dos dois pisando, andando, na terra barrenta de nosso terreno. Pois foi dali, por certo, que eles carrearam a argamassa com que levantaram o berço dos filhos que já tinham encomendado. Confesso: realizei-me! Faltava-me casa de joão-de-barro em Petrópolis e quem sabe terá sido aquela a única ou pelo menos a derradeira pérola a se engastar na densa e rica mata imperial da "Cidade das Hortênsias". BEM-VINDO A PETRÓPOLIS, MEU CASAL DE JOÃO-DE-BARRO!

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