segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

NADA DE NOVO DEBAIXO DO SOL

Há meio século impressionou-me um livro de Gustavo Corção: "DEZ ANOS". Abri-o agora e lhe confio o que aí vai: "... fiquei acabrunhado outro dia, quando um chofer, a propósito de um desses " aproveitadores", respondeu-me com desânimo: "Ora, são todos iguais... " Não, Senhor! O país anda mal justamente porque há uns que são diferentes, e que são muito piores. E é por isso também que fiquei triste ao ler numa carta de d. Hélder Câmara a Carlos Lacerda aquela passagem onde diz que fraude e corrupção existem em todos os partidos. Mas não no mesmo grau nem com as mesmas características! Esse modo de dizer, que tende a generalizar e a igualar, me parece inadequado e injusto! É possível que um inquérito rigoroso realizado no interior do Brasil viesse a revelar muitas fraudes eleitorais praticadas por membros da UDN, do PL, ou do PDC. Mas o que se tornou público e notório, sem necessidade de inquéritos e estatísticas, é que foram os homens daqueles partidos que pleitearam medidas de purificação do pleito e que foram homens do PSD que resistiram obstinadamente, tenazmente, a essas medidas. Foram também os homens daqueles partidos que se bateram pela declaração de bens dos candidatos, e foram os do PSD que resistiram e que transformaram as declarações em documentos indecifráveis. Diga-se que todos são pecadores, que temos muitas razões de queixas dos udenistas e dos libertadores, mas daí a dizer uma coisa que insinua que são todos iguais vai um abismo: o abismo que separa um mísero homem honesto de um desses "aristocratas" do momento. Não, amigo chofer. Não, d. Hélder. O Brasil está dessorando misérias não porque sejam todos iguais, mas porque alguns pretendem ser diferentes e conseguem!" (Abril, 1956).

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