terça-feira, 1 de junho de 2010

VIVER OU SER FELIZ?

Em carta a Tristão de Athayde, Jackson de Figueiredo escreveu:  "Alceu, o que me admira em você é a preocupação da FELICIDADE.  Você de certa forma a materializou ou, pelo menos, a quer como um estado ou como um plano em que você se desenvolvesse.  Não sei como lhe fale de mim, tão incompreensível lhe deve ser o meu modo de ser.  Parece incrível, mas é a verdade: não tenho a menor preocupação da felicidade, pelo menos não sinto que tenha. Sinto-me impelido a VIVER, a viver o quanto possa viver, o mais possível,  entre sofrimentos ou entre alegrias, e sinto, sim, adiante de mim, invisível mas adivinhado, ou um dardo ou uma lança, qualquer coisa que vibra e atrai e me pede que não descanse, que avance o mais que me for possível. Sei que neste avanço contínuo, todo desvio é perda de esforço e pode levar ao abismo  Às vezes são tantos os meus horrores, meus espantos, meus vexames, erros e desvios interiores, e vejo de um lado e outro tantas misérias, desgraças, provocações e novos erros que tenho a sensação de que vou enlouquecer, sobretudo porque não compreendo a razão de tudo isso! Até hoje o que tenho feito é, quase sem remorsos, passado adiante, gemendo ou chorando, pouco importa, mas passando adiante. E muito sensível a toda limitação ou sofrimento, mas quase liberto da ideia de ser feliz! o que desejo é realizar minha tarefa e compreendê-la o mais que me for possível. Não procurei a Igreja como asilo de felicidade. Busquei-a como "templo de definição dos deveres", como cátedra da verdade, como aquela que me diz, rude ou mansamente, conforme a ocasião, a verdade amarga... Adeus, meu querido Alceu. O dia já aí está" (carta escrita no dia o1/06/1928: do livro "Correspondência-Harmonia dos Contrastes, tomo II).  Tristão de Athayde converteu-se ao catolicismo no dia 15/08/1928, e Jackson faleceu afogado na praia do Joá, Rio, no dia 04/11/1928).  

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