quinta-feira, 17 de junho de 2010

50 ANOS DE GUARDA DO SÃO JOAO BATISTA

Por precisar de uma informação, quebrei ontem o gelo que há dois anos quase me queimava o desejo de abordar aquela figura que se costuma apelidar de ALVES. Alternando com outro colega a função de guarda do portão de entrada daquele extenso dormitório de uso da comunidade, sempre responde ao meu cumprimento, quando por lá apareço,  com sutil sorriso na face enrugada. De terno cáqui e aspecto discreto, reveladores de um funcionário público, sem gravata, bonezinho cinza à inglesa, toda vez encontro -o  ou medindo o chão em lentos e descompromissados passos ou escorando seus oitenta verões nalgum dos requietórios do ambiente, alvos constantes de sua atenção. Sempre lhe foi sagrado o dever de abrir e encerrar em horários britanicamente cronometrados o pesado portão do recinto, com arte antiga e em ferro composto. Flagrei-o ontem amparando uma velhinha ao descer os degraus de saída do imóvel, fronteiriço à Rua Dona Mariana, muito perto do Pró-cardíaco. Ontem, afinal, trocamos figurinhas. E me contou chamar-se ANTÔNIO ALVES. Ao completar 18 anos, recebeu ordem de seu pai para deixar o torrão natal, Portugal, e embarcar para o Brasil. Seu genitor em breve ia aposentar-se e a vaga estava reservada aqui para ele. Aportando, em 1952, no Brasil, pouco tempo esperou até ser chamado para ocupar o lugar do pai no ofício. Função esta que, exercida até hoje, ornou-lhe de branco os cabelos e lhe permitirá celebrar, daqui a alguns dias, as BODAS DE OURO como um dos guardas do Cemitério São João Batista do Rio de Janeiro. Cidade com que por certo "mantém uma relação de amor e ódio; amor por ser o Rio "um deslumbramento"; ódio por ser uma cidade com muitos problemas", segundo dizeres de Zuenir Ventura, escritor e jornalista mineiro, em entrevista ao"Estado de Minas"no dia 12/06/2010. E um desses problemas convive com esse guardador de nossos irmãos cujas ossos repousam no Campo Santo à espera da Ressurreição Final. Dizem que se mede o grau de educação e cultura dos habitantes de uma cidade pela preocupação com a limpeza, atenção e carinho que se dedica às nossas necrópoles. E como destoa da beleza de nosso Rio a administração reservada ao nosso São João Batista! Agradecido, Antônio Alves, pela proteção que há 50 anos dispensa aos nossos irmãos que dormem.

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