terça-feira, 29 de julho de 2014

GUERRA  DE  14  AOS  OLHOS  DE  TRISTÃO

A  GRANDE  GUERRA, 01/O8/1914 a 01/11/1918, estourou como um trovão, uma tempestade, num fim de tarde luminosa, daquele sábado trágico 02/08/1914. Durante mais de uma hora fiquei parado diante da igreja da Madalena, quando os jornais anunciavam a decretação da mobilização geral. Era a despedida de um mundo fácil e divertido, dos balés e dos cabarés. Esse foi um dos grandes momentos de minha vida. Esse dia 02/08, á medida que os anos passam, só têm feito crescer dentro de mim pela sua significação. Eu via em Paris, centro da Europa, que acabava um mundo. Era o fim da euforia. Era a minha mocidade, como a de tantos outros, que se extinguia. Terminava o diletantismo, a disponibilidade. Começava a vida dura, a opção, a obrigação de escolher entre os extremos, entre o pecado e o dogma. Era a angústia e a inquietação que chegavam, que se apoderava de todos nós. Era uma linda tarde como o último momento da doçura de viver. No dia seguinte, Paris abatia-se na tristeza. "Finie la douceur de vivre. Les temps de la passion sont arrivés". Difícil dizer se foi nesse instante mesmo que me ocorreu essa sensação de fim, de desaparecimento de um mundo que cedia lugar a um outro. Evidentemente naquele momento os fatos não se apresentaram com a clareza com que os procurei  manifestar com a lucidez de minha consciência de hoje. Mas já então eu pressentia que alguma coisa terminava. No subconsciente ficou gravada essa transição insquecível, quando um mundo de facilidades, de "alienações", de abandono e de indisponibilidade cessava para sempre. Só aos poucos me foi revelada a sua importância, a sua tremenda significação. Era convicção em Paris de que a guerra era uma questão de três meses. Norman Angel cujo livro lera por essa ocasião sustentava que  era impossível em face dos armamentos modernos e particularmente do
"canhão 75". Não é de hoje que se pensa ser a paz fruto do medo.  Em 1914 o medo não foi suficiente para impedir a catástrofe. Se-lo-á no fim do spéculo XX?  Ou será necessário "algo mais" para se evitar a nova catástrofe já com os monstruosos exemplos de Hiroxima e do Vietnã? E a despeito da verificação trágica  de que a maior potência econômica e militar dos tempos modernos não consegue, com bombas e minas,  abalar a moral de um povo. Naquele tempo eu era  pacifista, porque não acreditava na possibilidade da guerra.  Hoje sou pacifista, porque já vivi duas vezes a realidade da guerra. O choque produzido pelo prolongamento do conflito me iria revelar um fato: o de que a história do mundo é tecida de imprevistos. Era exatamente o avesso de minhas ideias no tempo, quando a vida para mim era constituída de previstos lógicos e predeterminadamente encadeados, sem grandes surpresas e na cereteza de que o dia seguinte era parecido com a véspera.  Assim como a natureza não fazia saltos a história não fazia saltos também" ("Memórias Improvisadas", Alceu Amoroso Lima, diálogos com Medeiros Lima).

     

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