segunda-feira, 12 de abril de 2010

ESCOTISMO 100 ANOS NO BRASIL

Acabo de ler que o ESCOTISMO está comemorando 100 anos de sua entrada no Brasil. E me lembro com certa nostalgia de que fui escoteiro. Em Bonfim, Minas Gerais. Foi no ano de 1939/40, no tempo da Segunda Guerra Mundial. Numa cidade outrora influente na política mineira, mas então numa triste fase de decadência pela má administração e pela divisão da população por causa da politicagem dominante, em duas facções rivais: Piriquitos e Joões-de-barro. Quando passei a ser gente, soube pelo Jesus do Abdon que a única exportação da cidade era de gente: crianças nasciam e, mal alfabetizadas - quando isto acontecia! - demandavam a capital promissora de um futuro sob a administração de Juscelino, de Benedito Valadares, de Gustavo Capanema, de Helena Antipoff na Fazenda do rosário,etc. Gravou-se-me com peso de luto a mudança repentina para Belo Horizonte da família do Nenén e da Maria Augusta, lá do Serrado, arrastando consigo nossa costureira e confidente de minha mãe, além de seus três filhos homens, Isaltino, o mais velho, o do meio...foi-se-me seu nome!...e o José, de minha turma de descobridores da vida e do mundo, que um pouco mais tarde se tornaria humorista famoso da Rádio Inconfidência de Minas Gerais. Foi então que o jovem advogado Joãozinho de Freitas criou na cidade o movimento escotista. E entre os arrebanhados rapidamente estávamos eu e meu irmão, o Luiz. Meus pais, creio que mais minha mãe, como já o tinham feito quando abracei sem meu conhecimento e aprovação a Congregação Mariana, logo mandaram vir da capital todo o enxoval necessário: camisa azul, calça jeans (não com esse epíteto!), gravata apropriada ou lenço, parece-me, tênis preto, ou chuteira? meias cinzas, bastão, apito, alcantil, chapéu próprio, etc. E o nosso Joãozinho de Freitas surgiu comandando o pequeno batalhão de uns quinze garotos, divididos entre Lobinhos, de 7 a 10 anos, e Escoteiros, de 11 a 14 anos. Meninas, nem pensar! E logo por encanto surgiu uma sede: no local hoje funciona o Posto de Saúde. Enfileirados, ordenadamente, as ruas empoeiradas, famílias nas janelas ao som do tarol e do hino dos Escoteiros: "Rataplam do arrebol, Escoteiros vede a luz! Rataplam olhai o sol do Brasil que nos conduz!", lépido nos seus trinta e poucos anos comandava o grupo de cidade adianatada num humilde burgo mineiro , um remendo novo num pano velho, trajando garbosamente todo o equipamento usado pelos componentes do grupo. Havia competições esportivas, partidas de futebol contra o time dos meninos da rua, excursões, palestras, marchas pelas ruas nas data cívicas, etc. Mas, um dia, de repente, a presença de um militar, destacado para orientar o movimento, tudo pôs a perder. Menino, só mais tarde OFICIALMENTE fiquei inteirado do fato. Restou-me a saudade acompanhada de minha profunda admiração e gratidão pela coragem do jovem advogado que nunca mais vi! Que pena a maioria de nossos políticos não terem tido a oportunidade de serem escoteiros! Lá entre os artigos da LEI do ESCOTISMO estavam o compromisso com a palavra, a lealdade, a cortesia e a alegria! ("Folhateen - Folha de São Paulo, 12 de abril de 2010).

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