terça-feira, 5 de julho de 2016

F O I    A S S I M

"ELEITO FERNANDO COLLOR, pude comprovar mais uma vez o quanto era passional o meu amigo BRIZOLA. Defendeu o Presidente quando todos o acusavam. A razão, isto é, a emoção, explica a sua atitude.  De início ele tinha horror a Collor a quem chegou a chamar de filhote da ditadura; porém, no tempo da campanha pelo impeachment, me dizia sem pestanejar: "Dr. Armando, eu acho que ele é vítima. Vai cair por inabilidade, porque perdeu maioria no Congresso. Depois daquele remoto encontro com Fernando Collor, quando ele era ainda governador de Alagoas, estive ainda com ele duas vezes, na PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA.  A cooperativa dos Usineiros  havia escolhido três pessoas para falar com o Presidente a respeito de um tema muito grave, não só para a classe, mas para a economia do Nordeste. Com o fim do Instituto do Açúcar e do Álcool, caíra também o subsídio;  havia, portanto, a necessidade de encontrar um mecanismo que compensasse aquela perda. Tal subsídio  existia porque o custo de produção no Nordeste era muito mais alto do que o no sul do país. Atualmente, na época da globalização é uma excrescência se falar em subsídio, mas naquele tempo isso se impunha. Lá fomos, Ricardo Brennand, Virgílio Távora de Melo e EU, que tínhamos outras atividades empresariais além das usinas de açúcar, falar com o Presidente.  Encontramos na antessala  Fernando Henrique Cardoso  que, como sabemos,   chegou a ser cogitado para Ministro das Realções Exteriores no governo Collor, mas não pode aceitar, porque a isso se opôs de modo ferrenho o saudoso Mario Covas. O Presidente nos recebeu com o seu ministro da Justiça, Jarbas Passarinho. Enquanto íamos explicando todo o desastre que representava para a economia do Nordeste o fim do subsídio, o ministro anotava tudo. Collor disse então que, em oito dias, teríamos uma solução; que voltássemos ali extamente naquele horário. Foi o que fizemos, e ele de fato havia encontrado uma saída, a criação do IPI para o setor, mas isentando o Nordeste de pagá-lo. O projeto não pode ir adiante porque foi questionado e derrubado pela Justiça. Nessas e noutras situações Collor mostrou que  uma das suas qualidades era a autoridade; por mais reservas que tenhamos a ele, temos de reconhecer isso, a capacidade de tomar decisões".  NOTA: Texto do livro  de Armando Monteiro Filho, "FOI ASSIM", doado  a José Eduardo Barros, assistente  de Armando Monteiro, Ministro do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior no governo Dilma Russef, Brasília, 2016.   

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