segunda-feira, 24 de março de 2014

O   PAPA   JOÃO   XXIII  E  TEILHARD  DE  CHARDIN


  • Durante dois anos, 1947/48, fui um dos noviços na Congregação da Missão, em Petrópolis, obrigado a ler diariamente um trecho da Imitação de Cristo e a rezar um terço do Santo Rosário. Os tempos passam, e com eles os hábitos, alguns dos quais se substituem. Daí a devoção que me acompanha de buscar quase todo dia um pouco de alimento espiritual, por exemplo, nas "Cartas ao Pai", de Tristão de Athayde. Por acaso hoje, uma professora evangélica externou-me a suspeita  da proximidade do fim do mundo. A resposta me saltou no momento e lhe revelei aquela teoria polêmica (?) de Teilhard de Chardin (1881-1955): a evolução-biológica, continuada por uma evolução cósmica. Acho tão consoladora a ideia de Chardin que, fugindo matreiramente aprofundar no assunto, lembrei-me do mestre Tristão. Em carta de 18/02/1964 à filha, contou-lhe que em 1962, o papa João XXIII, não conseguindo obter do Santo Ofício o imprimatur das obras de Teilhard de Chardin, chamou o geral dos jesuítas e o aconselhou a organizar um comitê de teólogos, e que cientistas publicassem  as citadas obras do jesuíta. Assim as obras passaram da clandestinidade à publicidade, sem a condenação do Santo Ofício, do Cardeal Otaviani. Contou ainda Tristão que Chardin,  vivendo uns tempos na China, tornou-se amigo de Renato Lago, embaixador do Brasil em Pequin, tornando-se conhecedor do jesuíta com quem se confessava. A esposa, Ester do Lago, levara da China uma cópia datilografada do livro "Milieu Divin", de Teilhard, "a que o padre Franca deu sumiço e nunca mais se encontrou até hoje no Santo Inácio". E Tristão acrescenta: o livro não tinha  sido ainda publicado, e, mesmo que tivesse,  como se sabe não conteria o imprimatur do Santo Ofício.  É da maior importância esse depoimento que o monsenhor Joaquim Nabuco, irmão do embaixador Maurício Nabuco, recolheu em Roma e deve ser rigorosamente certo  e o Morris West passou para o seu grande romance. Esta obra conta a história de um cardeal arcebispo-ucraniano, ex-prisioneiro do gulag soviético, que é eleito papa.  Um dos personagens do livro, às voltas com o Santo Ofício, teria sido inspirado em Teilhard de Chardin.

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